segunda-feira, 28 de abril de 2014

Quem você pensa que é?


Não recomendo que leia esse texto sem antes refletir sobre essa pergunta. Bem na verdade, não recomendo que viva mais um dia sequer da sua vida sem ter a resposta para essa pergunta. Não que você precise ter isso redigido ou de uma forma genérica que possa ser descrita em três minutos de conversa, mas que lá na sua mente você saiba quem você realmente é.

Claro que não é uma questão fácil. Na verdade há quem passe toda a vida buscando essa resposta. Mas não sejamos tão drásticos. Olhe pra você, bem no fundo dos próprios olhos, o que você é sem sombra de nenhuma união ou conceito alheio? Quais os seus reais valores? O de fato te faz feliz? Quantos sorrisos já deixou guardados pra não parecer uma pessoa boba ou sensível, só por que é isso que a idéia geral que se formou em nosso dias diz não ser adequado?

Existem momentos da vida que somos tragados pelas vagas impiedosas, e quando achamos que estamos dominando a onda ela simplesmente desaparece de baixo de nossos pés, e não bastasse afundarmos drasticamente, parece quase obrigatório que a prancha, chamada consciência, nós bata na cabeça pra aumentar a aflição do nosso afogamento na situação.

Mudando o cenário do embate, depois que somos esmagados pela besta, buscamos de todas as formas, costurar uma couraça que nos impeça de sofrer. Escondemos emoções, colocamos o coração em um frasco de conserva mergulhado em amargura, aderimos a novos conceitos e novos valores que nos protejam de passar pelo mesmo caminho espinhento pelo qual viemos, buscamos ser o mais superficiais possíveis com nossos pensamentos, antes que eles dêem as mãos a consciência que insiste em nos acusar que, de alguma forma, toda a tragédia é culpa nossa.

Resumidamente encarnamos um personagem invencível e intocável. Algumas vezes por uma semana, às vezes um mês ou dois, anos quem sabe, e por que não dizer o resto da vida?! Tornamos-nos um estranho a nós mesmos e quantas vezes nos flagramos cortando volta para não precisarmos nos encontrar com nosso “próprio eu”?

Mas que fique claro, não estou fazendo uma critica ao crescimento pessoal, muito pelo contrario, sou totalmente a favor de uma revisão completa de atitudes e pensamentos, antes ou depois (ou ate indiferentemente) de qualquer dificuldade que a vida nós apresente. Acho que é essa busca pelo crescimento pessoal que trona nossa vida mais plena. O que eu vinha me referindo é muito diferente disso, e também não chega a ser uma critica, é apenas uma oportunidade para repensar sobre quem realmente se é.

Assim como pra todos os seres racionais e sentimentais desse planeta, a vida também não tem sido só arco-íres e coelhinhos fofinhos pra mim. Deparei-me comigo mesma há alguns dias e me assustei com o que vi. Foi como se eu tivesse vindo do passado pra olhar pra mim, e quando o fiz, vi uma pessoa muito parecida com a qual eu jamais quis ser. Então fui mais fundo, voltei ao passado mais distante ainda, tateei minha essência, visualizei minha criação e todo empenho de meus pais pra me formar uma pessoa bondosa. Foi dolorido olhar pra mim e me ver uma pessoa já quase indiferente e desacreditada da bondade do mundo. Reza a verdade popular que não devemos nos importar com nada alem de nós mesmos, mas e quanto aos que tanto nos amaram e amam? O que eles pensam não merece ouvido? O que seria de nós sem esse amor que nos fez o que somos hoje? O que seria de nós sem qualquer amor que fosse?

O mundo de fato tem mostrado pouca bondade, mas se nós mesmos nos negarmos a oferecê-la, de onde então esperamos que ela viesse? Existe quem pense que quando de sabe fazer algo muito bem se ganha um direito absoluto de ostentar uma arrogância e indiferença sobre os demais. Seria lindo se essas pessoas pudessem ver a imponência do universo, que pela simples existência, torna nossa finitude tão miserável e nosso dom tão ínfimo. Porem a bondade, a humildade, um sorriso sem interesses... O que pode existir de mais majestoso que isso? O que pode existir de mais nobre do que em nossa pequeneza adicionarmos cor ao mundo? O que pode ser mais desafiador e bravo do que encarar as amarguras que a vida insiste em jogar aos nossos pés com um brilho de vencedor nos olhos, com um brilho de veracidade de essência, de confiança no próprio coração.

Poderia escrever muito mais ainda, mas nesse momento só o que tenho a fazer é deixar esse singelo conselho: Desarme-se, tranquilize o coração e diga, sem artifício algum, a você mesmo quem você pensa que é. Não perca toda sua vida vivendo uma vida que nem é sua.

(Obs.: Talvez depois de se redescobrir você precise fazer algumas mudanças na forma como vem vivendo ou na forma como tem olhado o mundo, mas acredite em mim, por mais que pareça difícil, vale a pena!)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

...Inclusive nada!


 
 Tudo pode acontecer! Esta é uma frase que denota muita emoção, geralmente citada perante alguma aventura ou oportunidade grandiosa, ou então algum risco que nos imponha medo. E falando em medo, quantas coisas, inconscientemente, deixamos de tentar por causa dele. Há quem diga que o medo, assim como a dor, são agentes protetores. O medo por nos impedir de nós machucarmos e a dor por nos alertar e tentar nos impedir de continuarmos nos machucando.

 O que acabamos esquecendo é que esses dois elementos vão tomando conta de nós, acabam virando um vicio, e por fim nos controlando. Impedindo que demos qualquer passo fora daquela trilha bem marcada onde já passaram milhões de sobrevivente, e não os reais viventes. Aquela trilha afundada pelos pés que se conformaram com o que “devia ser feito” e com o “é suficiente”, que deixaram os sonhos murchar e continuaram marchando no ritmo da musica ensurdecedora da rotina. Trilho daqueles que perderam o brilho nos olhos, e por que não dizer, que perderam os olhos?!  Aqueles olhos que viam as oportunidades onde hoje só há obstáculos.

 Na frase “Tudo pode acontecer!” cabe o universo de cada um, e também reflete o universo de cada um. Em uma recente viajem que fiz a São Paulo SP, uma das maiores cidades do mundo, pude perceber algumas nuances de universos alheios. Para a minha avó materna, dentro do “tudo” que poderia acontecer na minha viajem cabiam um assalto, um desencontro, um possível caminho perdido, um seqüestro e até um assassinato. Para uma amiga mais nova que eu, cabia dentro do mesmo “tudo” uma aventura, um encontro com o amor da minha vida, uma descoberta inesperada, paisagens lindas, festas glamorosas, enfim, tudo muito colorido e brilhante. Claro que usei os extremos como exemplo, e pode ser que minha avó aos dezesseis anos visse tudo colorido e brilhante também, assim como minha amiga, quando chegar aos setenta e cinco anos talvez já não seja tão otimista. Mas enfim, fui à dita viajem, e realmente tudo podia acontecer. E dentre tudo o que se esperava o que aconteceu foi “nada”.

 Nada de extraordinário, nada de trágico, nada de milagroso. Continuo viva e com todos os meus pertences, continuo sem o amor da minha vida e sem o glamour também.  Vi paisagens lindas, conheci e revi pessoas muito especiais, presenciei alguns momentos tristes, e outros lindos. Foi uma viajem tranqüila, me fez bem, mas bem pelo fim valeu muito mais a experiência de avaliar com olhos críticos essa questão das expectativas.

 Conclusão? Se tudo pode acontecer, isso inclui o nada. O amontoado de expectativas que se faz sobre algo de bom (possivelmente maravilhoso), talvez seja o peso que te afunde quando algo der errado ou não acontecer, mas talvez todo esse medo que te impeça de viver colorido seja apenas um artifício de uma expectativa negativa que se mostrará totalmente falsa assim que você levantar e tentar algo novo. Então abandone as expectativas e vá viver, afinal, “tudo pode acontecer”!