Não recomendo que leia esse texto sem antes refletir sobre
essa pergunta. Bem na verdade, não recomendo que viva mais um dia sequer da sua
vida sem ter a resposta para essa pergunta. Não que você precise ter isso
redigido ou de uma forma genérica que possa ser descrita em três minutos de
conversa, mas que lá na sua mente você saiba quem você realmente é.
Claro que não é uma questão fácil. Na verdade há quem passe toda
a vida buscando essa resposta. Mas não sejamos tão drásticos. Olhe pra você,
bem no fundo dos próprios olhos, o que você é sem sombra de nenhuma união ou conceito
alheio? Quais os seus reais valores? O de fato te faz feliz? Quantos sorrisos já
deixou guardados pra não parecer uma pessoa boba ou sensível, só por que é isso
que a idéia geral que se formou em nosso dias diz não ser adequado?
Existem momentos da vida que somos tragados pelas vagas
impiedosas, e quando achamos que estamos dominando a onda ela simplesmente
desaparece de baixo de nossos pés, e não bastasse afundarmos drasticamente,
parece quase obrigatório que a prancha, chamada consciência, nós bata na cabeça
pra aumentar a aflição do nosso afogamento na situação.
Mudando o cenário do embate, depois que somos esmagados pela
besta, buscamos de todas as formas, costurar uma couraça que nos impeça de
sofrer. Escondemos emoções, colocamos o coração em um frasco de conserva
mergulhado em amargura, aderimos a novos conceitos e novos valores que nos
protejam de passar pelo mesmo caminho espinhento pelo qual viemos, buscamos ser
o mais superficiais possíveis com nossos pensamentos, antes que eles dêem as
mãos a consciência que insiste em nos acusar que, de alguma forma, toda a tragédia
é culpa nossa.
Resumidamente encarnamos um personagem invencível e intocável.
Algumas vezes por uma semana, às vezes um mês ou dois, anos quem sabe, e por
que não dizer o resto da vida?! Tornamos-nos um estranho a nós mesmos e quantas
vezes nos flagramos cortando volta para não precisarmos nos encontrar com nosso
“próprio eu”?
Mas que fique claro, não estou fazendo uma critica ao
crescimento pessoal, muito pelo contrario, sou totalmente a favor de uma revisão
completa de atitudes e pensamentos, antes ou depois (ou ate indiferentemente)
de qualquer dificuldade que a vida nós apresente. Acho que é essa busca pelo
crescimento pessoal que trona nossa vida mais plena. O que eu vinha me
referindo é muito diferente disso, e também não chega a ser uma critica, é
apenas uma oportunidade para repensar sobre quem realmente se é.
Assim como pra todos os seres racionais e sentimentais desse
planeta, a vida também não tem sido só arco-íres e coelhinhos fofinhos pra mim.
Deparei-me comigo mesma há alguns dias e me assustei com o que vi. Foi como se
eu tivesse vindo do passado pra olhar pra mim, e quando o fiz, vi uma pessoa
muito parecida com a qual eu jamais quis ser. Então fui mais fundo, voltei ao
passado mais distante ainda, tateei minha essência, visualizei minha criação e todo
empenho de meus pais pra me formar uma pessoa bondosa. Foi dolorido olhar pra
mim e me ver uma pessoa já quase indiferente e desacreditada da bondade do
mundo. Reza a verdade popular que não devemos nos importar com nada alem de nós
mesmos, mas e quanto aos que tanto nos amaram e amam? O que eles pensam não
merece ouvido? O que seria de nós sem esse amor que nos fez o que somos hoje? O
que seria de nós sem qualquer amor que fosse?
O mundo de fato tem mostrado pouca bondade, mas se nós
mesmos nos negarmos a oferecê-la, de onde então esperamos que ela viesse? Existe
quem pense que quando de sabe fazer algo muito bem se ganha um direito absoluto
de ostentar uma arrogância e indiferença sobre os demais. Seria lindo se essas
pessoas pudessem ver a imponência do universo, que pela simples existência, torna
nossa finitude tão miserável e nosso dom tão ínfimo. Porem a bondade, a humildade,
um sorriso sem interesses... O que pode existir de mais majestoso que isso? O que
pode existir de mais nobre do que em nossa pequeneza adicionarmos cor ao mundo?
O que pode ser mais desafiador e bravo do que encarar as amarguras que a vida
insiste em jogar aos nossos pés com um brilho de vencedor nos olhos, com um
brilho de veracidade de essência, de confiança no próprio coração.
Poderia escrever muito mais ainda, mas nesse momento só o
que tenho a fazer é deixar esse singelo conselho: Desarme-se, tranquilize o
coração e diga, sem artifício algum, a você mesmo quem você pensa que é. Não perca
toda sua vida vivendo uma vida que nem é sua.
(Obs.: Talvez depois de se redescobrir você precise fazer
algumas mudanças na forma como vem vivendo ou na forma como tem olhado o mundo,
mas acredite em mim, por mais que pareça difícil, vale a pena!)