sexta-feira, 7 de março de 2014

Sapato Vermelho...


 

Ontem comprei um sapato vermelho! E não vou entrar em detalhes quanto a preço, estilo e ate estética do sapato. Vamos muito alem desse papo fútil e desnecessário.

Já a muito tempo eu vinha procurando um sapato como esse. Tempo mesmo! Ontem sai para pagar unas continhas (pobre é assim mesmo, mas também não vem ao caso), e estava com a mente preparada pra não comprar absolutamente nada, apenas por tudo em dia e economizar pra alguns cursos que quero fazer. Ia pensando nisso, quando passei por uma vitrine de uma loja. Ele estava la sorrindo pra mim! O sapato vermelho dos meus sonhos!

Nem sequer pensei, entrei na loja, e pedi o meu numero, e pra minha surpresa, ainda tinha a minha numeração! E fim, levei o sapato! É uma coisa aparentemente boba e sem significado, mas foi a alegria do meu dia. Encontrar algo inesperado, que de tanto se procurar em outros tempos, já se tinha perdido as esperanças de um dia encontrar.

E a vida é assim com tanta coisa. Passamos um tempo enorme procurando algo que queremos, um amor, um emprego, uma profissão, um amigo, e por falta de encontrarmos aquilo que queremos, ficamos com um similar. Frustrados, mas como se diz, e como é, nem tudo pode ser como queremos. E então vamos amontoando vários sapatos “quase”, e juntando um pouquinho de frustração em cada canto da caixinha. Mas ai um belo dia aparece o dito desejo realizado, inesperado, acessível, surpreendentemente na medida. O momento feliz.

Daí, hoje, me peguei pensando, em qual ocasião eu poderia usar o meu sapato extravagantemente vermelho? Vou a um casamento daqui a umas semanas, mas ainda faltam semanas. Parece um crime deixar minha satisfação lá esperando na caixinha por semanas. Lembrei que dificilmente vou a festas, e que os lugares que freqüento requerem, no maximo, um saltinho discreto. Quando esses pensamentos estavam quase desbotando a satisfação da minha conquista, eu pensei, “espere ai!!!”. O sapato é meu, eu paguei com o meu dinheirinho suado, o que me importa o que as outras pessoas vão pensar de eu usar ele pra ir ali, no restaurantezinho ou ali no bar de rua?

Muitas vezes, de tão bom que algo parece pra nós, temos medo de parecermos indecentemente felizes, como se fosse um crime nos sentirmos tão felizes em publico. E por que isso? Por que esta fora de moda amar alguém de corpo e alma? Por que é nerd quem gosta de estudar mais que tudo? Por que é bobo quem gosta de trabalhar ou ama a profissão que tem?

Não postei foto do meu sapato nas redes sociais, nem sequer mencionei isso por la. Também não mencionei um quinto das coisas emocionantes que eu fiz ou que me aconteceram na minha vida, por que definitivamente eu não preciso cotar os “likes” pra saber se o que eu fiz foi de fato legal, ou se meu cabelo esta mesmo bonito como eu acho que esta, e assim por diante. Não condeno quem o faça. Na verdade a minha maior filosofia é, cada um com a sua vida, cada um com seus problemas!

Há quem diga que sou insensível, e que essa é uma forma egoísta de pensar. Eu discordo plenamente. Ajudar mesmo, de verdade, aquela ajuda que faça a diferença, pouquíssimas pessoas se dispõe. Mas agora, falar da vida dos outros, achar ruim, feio e ridículo o que os outros fazem, isso sim o povo quer. E daí me diga, isso é menos egoísta? É menos pior curtir e comentar uma foto na rede social e falar mal pelas costas da pessoa.

Se a pessoa comprou um sapato vermelho, e ta a fim de usar pra ir ate a sorveteria, o que os outros têm a ver com isso? O problema (ou possivelmente uma felicidade, satisfação pessoal) é da pessoa que esta usando o sapato escandaloso. Ninguém jamais saberá o que se passa no coração do outro, então, que direito temos de azedar a felicidade alheia com olhares maldosos e comentários desnecessários? Por que não viver cada um os seus “problemas”?

E agora provavelmente o pensamento dominante é que me senti magoada por alguém criticar o meu lindo sapato vermelho, mas não. Ainda não usei ele, mas amanha vou usar. Não vou deixar essa pequena felicidade esperando dentro da caixa por medo do que alguém possa vir a pensar ou falar. Quem me garante que daqui a algumas semanas ainda terei pés para calçados?! Parece trágico pensar assim, mas quem pode garantir o próximo segundo? Alias, não perca seus preciosos segundos cuidando da vida alheia, pode ser que lhe façam falta mais tarde!