Ontem comprei um sapato vermelho! E não vou entrar em
detalhes quanto a preço, estilo e ate estética do sapato. Vamos muito alem
desse papo fútil e desnecessário.
Já a muito tempo eu vinha procurando um sapato como esse.
Tempo mesmo! Ontem sai para pagar unas continhas (pobre é assim mesmo, mas
também não vem ao caso), e estava com a mente preparada pra não comprar
absolutamente nada, apenas por tudo em dia e economizar pra alguns cursos que
quero fazer. Ia pensando nisso, quando passei por uma vitrine de uma loja. Ele
estava la sorrindo pra mim! O sapato vermelho dos meus sonhos!
Nem sequer pensei, entrei na loja, e pedi o meu numero, e
pra minha surpresa, ainda tinha a minha numeração! E fim, levei o sapato! É uma
coisa aparentemente boba e sem significado, mas foi a alegria do meu dia.
Encontrar algo inesperado, que de tanto se procurar em outros tempos, já se
tinha perdido as esperanças de um dia encontrar.
E a vida é assim com tanta coisa. Passamos um tempo enorme
procurando algo que queremos, um amor, um emprego, uma profissão, um amigo, e
por falta de encontrarmos aquilo que queremos, ficamos com um similar.
Frustrados, mas como se diz, e como é, nem tudo pode ser como queremos. E então
vamos amontoando vários sapatos “quase”, e juntando um pouquinho de frustração
em cada canto da caixinha. Mas ai um belo dia aparece o dito desejo realizado,
inesperado, acessível, surpreendentemente na medida. O momento feliz.
Daí, hoje, me peguei pensando, em qual ocasião eu poderia
usar o meu sapato extravagantemente vermelho? Vou a um casamento daqui a umas
semanas, mas ainda faltam semanas. Parece um crime deixar minha satisfação lá
esperando na caixinha por semanas. Lembrei que dificilmente vou a festas, e que
os lugares que freqüento requerem, no maximo, um saltinho discreto. Quando
esses pensamentos estavam quase desbotando a satisfação da minha conquista, eu
pensei, “espere ai!!!”. O sapato é meu, eu paguei com o meu dinheirinho suado,
o que me importa o que as outras pessoas vão pensar de eu usar ele pra ir ali,
no restaurantezinho ou ali no bar de rua?
Muitas vezes, de tão bom que algo parece pra nós, temos medo
de parecermos indecentemente felizes, como se fosse um crime nos sentirmos tão
felizes em publico. E por que isso? Por que esta fora de moda amar alguém de
corpo e alma? Por que é nerd quem gosta de estudar mais que tudo? Por que é
bobo quem gosta de trabalhar ou ama a profissão que tem?
Não postei foto do meu sapato nas redes sociais, nem sequer
mencionei isso por la. Também não mencionei um quinto das coisas emocionantes
que eu fiz ou que me aconteceram na minha vida, por que definitivamente eu não
preciso cotar os “likes” pra saber se o que eu fiz foi de fato legal, ou se meu
cabelo esta mesmo bonito como eu acho que esta, e assim por diante. Não condeno
quem o faça. Na verdade a minha maior filosofia é, cada um com a sua vida, cada
um com seus problemas!
Há quem diga que sou insensível, e que essa é uma forma
egoísta de pensar. Eu discordo plenamente. Ajudar mesmo, de verdade, aquela
ajuda que faça a diferença, pouquíssimas pessoas se dispõe. Mas agora, falar da
vida dos outros, achar ruim, feio e ridículo o que os outros fazem, isso sim o
povo quer. E daí me diga, isso é menos egoísta? É menos pior curtir e comentar
uma foto na rede social e falar mal pelas costas da pessoa.
Se a pessoa comprou um sapato vermelho, e ta a fim de usar
pra ir ate a sorveteria, o que os outros têm a ver com isso? O problema (ou
possivelmente uma felicidade, satisfação pessoal) é da pessoa que esta usando o
sapato escandaloso. Ninguém jamais saberá o que se passa no coração do outro,
então, que direito temos de azedar a felicidade alheia com olhares maldosos e
comentários desnecessários? Por que não viver cada um os seus “problemas”?
E agora provavelmente o pensamento dominante é que me senti
magoada por alguém criticar o meu lindo sapato vermelho, mas não. Ainda não
usei ele, mas amanha vou usar. Não vou deixar essa pequena felicidade esperando
dentro da caixa por medo do que alguém possa vir a pensar ou falar. Quem me
garante que daqui a algumas semanas ainda terei pés para calçados?! Parece
trágico pensar assim, mas quem pode garantir o próximo segundo? Alias, não
perca seus preciosos segundos cuidando da vida alheia, pode ser que lhe façam
falta mais tarde!